"Eu trago para o trabalho a inteligência emocional que minhas filhas me trouxeram", diz Josie Romero
Trabalho e maternidade, o que mudou de 20 anos para cá?
Cerca de 4 em cada 10 mulheres chefiam famílias no Brasil. De acordo com o IBGE, elas respondem por mais de 46% da população economicamente ativa no país. De fato, as mulheres estão cada vez mais relevantes no mercado de trabalho. Apesar disso, a desigualdade de gênero ainda é uma realidade, há preconceitos e estereótipos a serem combatidos e novas práticas corporativas e olhares acolhedores às mulheres e à maternidade ainda precisam ser construídos e multiplicados.
Para saber o que mudou no universo do trabalho em empresas e da maternidade de 20 anos para cá e o que ainda precisa evoluir, conheça Josie Romero, 49, mãe de duas filhas, de 20 e de 13 anos, e alta executiva da Natura, empresa associada ao Movimento Mulher 360. Ela traz um relato pessoal cheio de empoderamento:
Como aconteceu a maternidade na sua vida?
Toda a minha carreira foi construída em paralelo à maternidade. Nunca foi uma escolha entre uma e outra. Desde o começo, eu sabia que eu queria uma vida profissional legal, mas não queria abrir mão da maternidade. E consegui. Parei, tive a licença, voltei a trabalhar. Contando agora, parece que foi simples, mas vou usar uma analogia para explicar: eu tive dois partos normais e dizem que, depois de um tempo, você esquece a dor. Eu não lembro mesmo, e toda história que eu conto é muito mais positiva, mas há momentos difíceis. Nem tudo serão flores. Tem momentos que serão muito difíceis: você vai viajar e deixar o filho doente em casa, e depois descobrir que você sofre mais que a criança.
Como foi a voltar para o trabalho depois da licença?
Eu montei uma rede de apoio com pessoas de confiança. O meu marido conseguia ter uma agenda complementar à minha, e a gente se dividia. Desde os primeiros momentos, ele, como pai, assumiu os cuidados das crianças, e isso foi muito importante.
Sua filha mais velha tem 20 anos. Como foi ser uma mãe que trabalha naquela época?
Eu sinto que há 20 anos eu era a pioneira. Tanto pela profissão (minha área é operações e logística, uma área historicamente ocupada por homens), quanto pelo fato de eu conseguir levar as coisas – trabalho e maternidade – em paralelo.
O que você acha que mudou em relação ao mercado de trabalho e maternidade?
Hoje, o debate é muito mais aberto, e há uma preocupação em dar para a mulher profissional espaço para que ela não precise fazer uma escolha. Nesses anos, eu vi muitas mulheres desistindo da carreira, falando que não queriam ser promovidas ou mudar de área, porque não conseguiam levar a carreira em paralelo à maternidade.
Hoje eu vejo mulheres e homens ajudando outras mulheres. Eu tenho exemplos de mulheres que trabalham comigo que são mães, e eu dou o maior apoio. Eu quero que elas trabalhem comigo. Mas, toda vez que eu vejo uma excelente profissional que é mãe, eu vejo um pai presente ao lado. As empresas darem aos homens espaço para que eles sejam pais e participem é muito importante.
Na minha equipe, eu tenho que entender que mulheres e homens que têm que ir à reunião da escola, levar os filhos ao médico, têm obrigações de cuidado. Isso era algo meio tabu há 20 anos.
Como as empresas estão olhando para os pais e a paternidade?
Eu vejo as empresas dando um espaço maior. O que interessa é a entrega, e para os homens também. Na Natura, há licença paternidade de 40 dias, os principais, em que a mãe sofre mais. Se eu tivesse tido isso, teria sido melhor.
As empresas darem aos homens espaço para que eles sejam pais e participem é muito importante. Há um avanço da sociedade, essa complementariedade dos papéis. É uma evolução enorme, mas ainda não é suficiente. Tem empresas onde isso está muito longe, mas algumas estão fazendo esse movimento.
O que você aprendeu com a maternidade?
Aprendi a lidar com a frustração, com diferenças. Filho é uma escola. Você educa e imagina que será um caminho, e ele segue um caminho totalmente diferente. Hoje sou muito mais preparada para a flexibilidade, para discutir com a nova geração. Consigo acolher os novos profissionais que são tão importantes. Eu trago para o ambiente de trabalho a inteligência emocional que minhas filhas me trouxeram.
Catraquinha e Movimento Mulher 360
O Catraquinha e o Movimento Mulher 360 defendem um mundo no qual as mães, enquanto mulheres com suas múltiplas dimensões, sejam acolhidas, respeitadas e valorizadas nos ambientes públicos e privados, e possam trabalhar e cuidar de seus filhos sem sofrerem discriminação. Com essa parceria, vamos produzir conteúdos exclusivos trazendo histórias de iniciativas de empresas que estão dando certo e que contribuem para alcançarmos essa transformação. Queremos inspirar líderes empresariais, gestores, formuladores de políticas públicas, homens e mulheres a construírem um mundo mais igualitário e sem disparidades de gênero.