Entenda de que forma a jornada feminina nas Olimpíadas de Paris 2024 pode ser aplicada à carreira
![Montagem de quatro fotos de atletas brasileiras em momentos importantes das Olimpíadas de Paris 2024. Da esquerda para direita: Rayssa Leal, Bia Souza, Rebeca Andrade e Tati Weston-Webb.](https://movimentomulher360.com.br/wp-content/uploads/2024/08/Img-PodioOlimpiadas.png)
![Montagem de quatro fotos de atletas brasileiras em momentos importantes das Olimpíadas de Paris 2024. Da esquerda para direita: Rayssa Leal, Bia Souza, Rebeca Andrade e Tati Weston-Webb.](https://movimentomulher360.com.br/wp-content/uploads/2024/08/Img-PodioOlimpiadas.png)
As Olimpíadas de Paris 2024 se mostraram um palco de transformação para mulheres em todo o mundo. A presença feminina na competição não apenas quebra recordes, mas também barreiras sociais e profissionais. Estudos recentes mostram que o impacto de uma carreira esportiva vai além das medalhas, influenciando positivamente a carreira profissional dessas mulheres. No entanto, a desigualdade de gênero ainda persiste tanto nos esportes quanto no mercado de trabalho. Segundo mapeamento Se Ela Ganha, Eu Ganho, lançado no início de agosto pela consultoria 65|10, há muito a aprender com a trajetória feminina nas Olimpíadas para vencer em outras áreas.
Um dos aprendizados é que não basta a garra e a resiliência da superação individual: o trabalho constante e consistente em equipe e os fatores ambientais externos são fundamentais para alcançar maior igualdade de gênero no esporte e, como consequência, para a conquista de mais medalhas.
De acordo com o estudo, o apoio estatal com bolsas e incentivos; o suporte institucional, com metas, cotas e grupos de trabalho; além de mais espaço na mídia e patrocinadores são alguns elementos necessários para chegarmos lá. Esses pontos podem até ser obtidos por meio da pressão das atletas, mas o interesse e o investimento das outras partes do ecossistema do esporte também precisam acontecer.
Apesar de avanços significativos, como a participação histórica das mulheres nas Olimpíadas, muitas enfrentam desafios como a falta de apoio e reconhecimento. A trajetória dessas atletas inspira mudanças, apontando para a necessidade de políticas públicas e empresariais que promovam a equidade de gênero em todos os setores.
Empresas e instituições precisam investir em programas que ofereçam suporte a essas mulheres, não só durante suas carreiras esportivas, mas também na transição para outras áreas profissionais.
Ao celebrar as conquistas dessas mulheres, é necessário reconhecer e abordar os obstáculos que ainda existem, reforçando a importância de iniciativas que incentivem a inclusão e a igualdade de oportunidades para todas as mulheres, dentro e fora do esporte.
Para entender os detalhes da pesquisa, confira a entrevista completa com Thais Fabris, fundadora da 65|10, escritora, artista e diretora de criação com passagem por agências como Flag e Fischer, para o Meio e Mensagem. Há dez anos, a 65|10 estuda a participação de mulheres nos esportes e traz a perspectiva feminina para pesquisa e processos criativos da indústria.
Na pesquisa, vocês mapearam os principais fatores que levaram a mais igualdade de gênero nos esportes. Quais são e em que medida eles também se aplicam a outras áreas?
Nós mapeamos fatores que levaram a mais igualdade nos esportes e que podem ser replicados em outros setores, inclusive na comunicação. O interessante é notar que não são baseados em superação individual, e que as atletas provavelmente chegaram lá porque exercitam diariamente o trabalho em equipe.
Como primeiro ponto, temos a pressão sobre entidades de classe para a criação de sistemas de metas e cotas, algo que já é feito, por exemplo, pelo Observatório da Diversidade na Propaganda. Também é fundamental o apoio dos governos, com políticas públicas, como foi o caso da Bolsa Atleta. Soma-se a isso um sistema de sponsorship, que nos casos das atletas são os patrocinadores, e no nosso caso pode se traduzir pelo endosso de figuras relevantes no mercado ao trabalho feito pelas mulheres.
Ter visibilidade para o nosso trabalho é fundamental, e o Women To Watch é um exemplo. Mas eu acredito que a chave disso tudo é a união entre mulheres para pressionar por mudanças, e temos iniciativas no mercado como More Grls e Indique uma Preta. Ao mapear o que levou as atletas a conseguirem mais espaço, ficam nítidas para mim as iniciativas que precisamos fortalecer para ter resultados semelhantes.
O que as mulheres do mercado de comunicação e marketing podem aprender com a conquista feminina esportiva no Brasil?
Na comunicação e marketing, nós vivemos um cenário semelhante ao das atletas: temos menor participação, ganhamos menos, não chegamos com tanta frequência aos cargos de liderança, temos menos visibilidade. Ver que elas conseguiram virar o jogo, ao menos em parte, e ganhar espaços enquanto as mulheres perdiam em várias outras áreas pode nos mostrar que é possível, e inspirar a seguir os passos delas.
Quais são as táticas para a vitória feminina no esporte, na carreira e na vida? E o que falta para ainda chegarmos lá?
O Brasil está na 71ª colocação do ranking de igualdade de gênero do Banco Mundial, que conta com 190 nações e perde para diversos outros países da América Latina. Falta muito para chegarmos lá, principalmente uma legislação que dê às mulheres direitos iguais aos dos homens, além de uma sociedade que se organize para que tenhamos mais espaço na vida pública. Hoje, vemos que alguns dos obstáculos à prática esportiva por meninas e mulheres são a sobrecarga de tarefas de cuidado, o preconceito de gênero e as pressões estéticas. Não por coincidência, estes são também fatores que afastam as mulheres de diversas outras esferas da vida, como o acesso a recursos financeiros, trabalho e seu direito ao descanso.
A ONU e a Unesco já estabeleceram a prática esportiva feminina como um dos pilares para que se atinja a igualdade de gêneros. Diante do novo estudo da 65|10, como avalia isso?
Estamos vivendo uma crise na saúde mental de mulheres – com índices muito altos de ansiedade, depressão e burnout – e prática esportiva é comprovadamente benéfica para evitar estas doenças. Além disso, nos esportes as meninas e mulheres aprendem diversas capacidades que são valorizadas na nossa sociedade, como o espírito de equipe, a resiliência e a tentativa e erro. Uma nova pesquisa recente da Deloitte descobriu que praticar esportes competitivos prepara as mulheres para construir carreiras de sucesso.
Como mulher e liderança, o que mais te inspirou nessas Olimpíadas de Paris 2024?
Eu amo ver como as atletas olímpicas nos mostram novas maneiras de liderar, da Simone Biles fazendo reverência à Rebeca Andrade no pódio à Tamires, do handebol, que carregou a adversária lesionada no colo. É um aprendizado ver como elas conseguem competir de uma maneira saudável e respeitosa. Também acho extremamente inspirador ver que as mulheres negras são as protagonistas dos esportes olímpicos brasileiros, e a minha torcida é que elas ocupem os pódios em muitas outras áreas.
Para ler o relatório Se Ela Ganha, Eu Ganho na íntegra, acesse https://bit.ly/3SRc7kq
Com informações do Meio e Mensagem
*Crédito da imagem: Raissa Leal – Foto: Gaspar Nobrega/COB, Bia Souza – Foto: Reuters, Rebeca Andrade – Foto: Lionel BONAVENTURE/AFP e Tati West – Instagram pessoal.
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