36,6% das vagas com maiores salários são ocupadas por mulheres


Apesar das mulheres terem mais anos de estudo e serem maioria na população brasileira, ainda não ocupam nem quatro de cada dez cargos gerenciais existentes no mercado de trabalho do País. No grupo de trabalhadores com os maiores rendimentos por hora trabalhada, apenas 36,6% são do gênero feminino. É o que apontam os dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) referente ao quarto trimestre de 2022.
A sub-representação feminina em cargos gerenciais não registrou melhora expressiva na última década. “Aumentamos menos de 2 pontos percentuais em dez anos, é muito pouco”, avalia Janaína Feijó, pesquisadora responsável pelo estudo.
Como os cargos de gerência tendem a remunerar melhor, a sub-representação feminina nessas funções contribui para a baixa proporção de profissionais do gênero feminino nos extratos mais altos da distribuição de salários. No quarto trimestre de 2022, no grupo que concentrava os trabalhadores com os maiores rendimentos por hora trabalhada, apenas 36,6% eram mulheres. A região com maior proporção de profissionais mais bem pagas foi o Sul, e a menor proporção foi reportada no Sudeste.
Segundo a pesquisadora, os resultados evidenciam o fenômeno “teto de vidro”, que funciona como uma barreira invisível ao acesso delas a níveis mais altos da hierarquia organizacional das empresas.
“A mulher, mesmo sendo educada, mesmo estando empregada dentro de uma instituição, não consegue ascender profissionalmente. Não consegue equiparar o salário ao de um homem, porque não ocupa posições de prestígio dentro das empresas”, explica.
Além da sub-representação feminina em funções de gestão mesmo quando possuem as mesmas habilidades e experiências que os homens, o fenômeno do teto de vidro resulta também em discriminação salarial: a mulher tende a receber um salário menor mesmo possuindo as mesmas competências que seus pares masculinos.
Durante o período analisado, os homens ganhavam uma remuneração 23,4% maior do que a delas em postos equivalentes, ou seja, a defasagem salarial permanecia considerável quando comparados profissionais com as mesmas características socioeconômicas, como raça, região, anos de estudo, experiência profissional e trabalhando a mesma quantidade de horas na mesma função.
A boa notícia é que essa diferença salarial entre gêneros caiu cerca de dez pontos porcentuais em uma década: no quarto trimestre de 2012, o rendimento deles era 33,4% maior do que o delas. Mudanças socioculturais têm ajudado nessa melhora, diz a pesquisadora do Ibre/FGV.
“As gerações mais jovens são menos avessas à figura da mulher em qualquer ambiente, principalmente no mercado de trabalho. Compreendem a necessidade de ambientes plurais e equitativos, enquanto algumas pessoas de gerações passadas ainda têm a mentalidade de que o lugar da mulher é cuidando dos filhos. Essas transformações sociais acontecem lentamente, mas ajudam sim a diminuir esse gap”, diz Janaína Feijó.
Outros fatores que ajudam na melhor inserção da mulher são políticas públicas voltadas para reduzir essa desigualdade de gênero, como os investimentos em rede de apoio e proteção legal a trabalhadoras quando se tornam mães, de forma que não precisem abandonar seus empregos para se dedicar ao cuidado das crianças, menciona a pesquisadora.
O estudo do Ibre/FGV foi elaborado tendo como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com informações do Estado de São Paulo.
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