Receita para uma sociedade mais igualitária
Por Paola Carosella*
Não sei se o meu envolvimento com o tema empoderamento da mulher foi consciente. Sei que fui, aos poucos, me engajando em situações em que senti necessidade de me manifestar. E, na medida em que fui me engajando e participando, reparei o quanto ainda precisa ser falado, o quanto ainda precisa ser conversado, o quanto de espaço de diálogo e de troca ainda precisamos.
Eu me surpreendi quando percebi que o Brasil não estava em uma situação mais generosa em relação aos assuntos relacionados à mulher. Eu nunca vivi questões referentes a gênero ou dificuldades por conta disso. Minha mãe foi uma mulher muito forte: mãe solteira, com dois empregos, ela conseguiu estudar e se formar em Direito. E eu consigo imaginar as inúmeras dificuldades que ela deve ter enfrentado. Mas ela fez algo maravilhoso comigo: em nenhum momento fez parecer que empreender e tocar a própria vida fosse mais difícil por ser mulher.
Se foi difícil para ela, eu não soube. E esse deve ter sido o principal motivo pelo qual eu não senti que havia um lugar para homens e outro para mulheres. Segui minha vida conquistando espaços desde muito jovem, sem nenhum preconceito. Às vezes, não saber disso ajuda, pois nos libera dos medos alimentados pelo nosso próprio preconceito.
Comecei a trabalhar na cozinha em 1990, no único restaurante de Buenos Aires que me aceitou como estagiária. Nenhum outro aceitava mulheres. Isso, para mim, era engraçado, nunca vi como uma questão de gênero. Talvez fosse apenas o fato de o trabalho em uma cozinha ser difícil e pesado para o corpo, e os horários não serem os mais gentis para uma mulher que quer ser mãe, por exemplo.
Mas eu sei que eu fui uma privilegiada. Nasci em uma família de classe média, com uma mãe que estudou e respeitou a minha escolha. Tive acesso a amor de família, educação, saúde. Tive estruturas que são fundamentais na construção da autoestima. Assim fica muito mais fácil se aventurar, muito mais fácil confiar no que somos, de não ter medo.
Eu sei muito bem que para muitas mulheres não é assim; que muitas delas (e homens também, claro) sofrem de uma carência enorme de apoio, de educação de respeito, de dignidade… Para essas pessoas, as coisas não são tão fáceis assim, muito pelo contrário.
Apesar da minha visibilidade, não consigo me ver como um instrumento de transformação. Não tenho tanto poder e, nem se o tivesse saberia o que fazer com ele. Sou uma cozinheira que se animou a participar de um programa de TV e tenho alguns seguidores. Muitos talvez, mais do que “alguns”, mas eu sou uma cozinheira.
Se, como cozinheira e mulher, eu consigo inspirar alguém a se animar a fazer algo, a cozinhar, a agradecer, a brigar menos e fazer mais e a construir algo, isso já me deixa muito, muito feliz. E, quando me posiciono em relação ao empoderamento da mulher, tenho muitos feedbacks. Eu me sinto muito honrada e muito agradecida pelos comentários e demonstrações tão amorosas e cheias de gratidão de tantas mulheres – e de homens também.
Para que exista equidade de gênero e empoderamento feminino, penso em alguns elementos essenciais: educação – da escola, da rua, de casa, de mãe e pai; dignidade – cuidar da vida desde o primeiro dia, com amor, alimento e saúde; empatia – precisamos olhar desta forma e que nos olhem com empatia. Outra coisa muito importante que precisamos fazer é quebrar certos paradigmas que estão muito enraizados na nossa cultura – tanto nas mulheres quanto nos homens, pois todos nós nos beneficiamos de uma sociedade com mais igualdade.
* Paola Carosella é cozinheira, empresária e executiva. É também jurada no programa de TV MasterChef Brasil e sócia dos restaurantes Arturito e La Guapa Empanadas.