A nova edição do Relatório de Transparência Salarial escancara a desigualdade no Brasil e revela que as mulheres seguem ganhando menos


A terceira edição do Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, divulgada em abril pelo Ministério do Trabalho e Emprego, revela um dado alarmante: as mulheres ainda recebem, em média, 20,9% a menos que os homens no Brasil. Apesar de todos os avanços legais e institucionais em prol da igualdade de gênero, a diferença permanece significativa e estrutural.
O relatório, que se baseia em informações de 50.245 empresas com mais de 100 colaboradoras e colaboradores, mostra que a desigualdade salarial não é um fenômeno isolado ou pontual. Pelo contrário, está presente em todos os setores da economia, independentemente do porte ou da localização da companhia.
Outro importante dado revelado é que, mesmo em cargos de direção e liderança, as profissionais seguem sendo minoria e, quando ocupam esses espaços, recebem menos do que os executivos que desempenham funções equivalentes. Isso reflete não apenas um problema de remuneração, mas também de acesso e de reconhecimento profissional.
Além disso, apenas 4,7% das empresas que responderam ao relatório afirmam ter um plano de cargos e salários estruturado com perspectiva de gênero. Isso mostra o quanto ainda é necessário avançar na organização interna para garantir justiça e transparência.
“Não podemos mais normalizar que homens e mulheres ocupando o mesmo cargo, prestando o mesmo serviço, recebam valores diferentes ao final do mês trabalhado”, diz Rosane Silva, secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres.
O relatório também tem um papel educativo. Ao tornar públicas essas informações, amplia a capacidade de diálogo com a sociedade civil e de pressão por transformações dentro das corporações. Empresas comprometidas com a equidade agora têm uma base comparativa para agir.
É fundamental entender que a disparidade salarial não é apenas uma questão de justiça individual, ela revela padrões de discriminação que afetam a produtividade, a inovação e a cultura de todas as organizações.
“A desigualdade salarial entre mulheres e homens persiste porque é necessário que haja mudanças estruturais em nossa sociedade, desde a responsabilidade das mulheres pelo trabalho do cuidado à mentalidade de cada empresa, que precisa entender que ela só irá ganhar tendo mais mulheres compondo sua força de trabalho, e com salários maiores”, afirma a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
A transparência é só o começo. O desafio agora é transformar dados em ações, relatórios em compromissos e palavras em práticas consistentes. A igualdade salarial é um direito. E a equidade de oportunidades deve ser um valor inegociável no presente e no futuro do trabalho.
Com informações de Ministério do Trabalho e Emprego
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