“Você tem que se dedicar ao trabalho de forma alinhada com o seu propósito”, diz diretora do Citi
Desde 1999, a peruana Rocio Velarde escolheu desenvolver a sua carreira no grupo Citi. De estagiária a diretora na mesma empresa, ela costuma destacar a importância dos seus gestores e da sua equipe no seu processo de aprendizagem e crescimento profissional, além da própria dedicação.
Morando no Brasil há oito anos, hoje ela é Diretora Executiva de Serviços Transacionais do Citi. “Fui convidada para tocar um projeto de transformação na área de Serviços de Comércio Exterior por seis meses e acabei ficando. O sistema financeiro brasileiro é muito sofisticado e complexo, e eu sou uma pessoa muito detalhista. O meu maior desafio foi entender e trabalhar com essa complexidade de forma estratégica e conectando com o que o Citi tem de melhor, que é a nossa globalidade, sem me perder com tanta informação”, conta.
Para a profissional, um dos seus desafios é balancear a visão estratégica com a tática. “A equipe com que vim trabalhar é muito forte tecnicamente e foi extremamente generosa comigo ao dividir conhecimento e abrir portas. Superei os desafios com muita humildade, reconhecendo meus gaps, criando alianças, mas sem perder de vista qual o valor agregado que eu trazia para a mesa e com um objetivo muito claro de entregar um negócio maior e mais sólido do que tinha encontrado”, afirma.
Confira, abaixo, a conversa que o Movimento Mulher 360 teve com a executiva sobre sua trajetória profissional, liderança, desafios da carreira e da vida pessoal.
MM360: Como foi o seu desenvolvimento na empresa?
Rocio: Comecei como estagiária, no Peru, na área de Qualidade e Inovação. Fui efetivada no ano 2000 e, após três anos na área, procurei um novo desafio que tivesse um contato mais próximo com clientes e diretamente relacionado à geração de resultados. Depois de várias conversas, recebi uma proposta para me juntar à área de Comércio Exterior como gerente de produtos. Aprendi muito, me esforcei bastante, entregando, junto com minha equipe, um crescimento importante e incrementando a relevância do nosso negócio para o resultado regional, motivo pelo qual, em 2005, recebi um convite para me juntar à equipe que cuidava da América Latina e Caribe, como Gerente de Produtos regional. Minha experiência com essa equipe foi fantástica. Conheci os 23 países da América Latina nos quais o Citi opera e entendi melhor como a nossa globalidade ajuda os nossos clientes a fazerem negócios no mundo inteiro. Em 2010, vim para o Brasil para tocar o projeto de transformação que comentei antes, e acabei ficando por conta do dinamismo do mercado e das oportunidades que ele apresentava para continuar crescendo pessoal e profissionalmente. De lá para cá, fiz um pouco de tudo: cuidei da área de produtos de Serviços de Comércio Exterior, atendi as necessidades transacionais de nossos clientes da Indústria Financeira e Setor Público, cuidei da área de vendas de Serviços Transacionais e, no final de 2015, assumi a liderança da área de Serviços Transacionais.
MM360: Quais foram os principais desafios pessoais e profissionais?
Rocio: No lado pessoal, é difícil estar longe da família, especialmente em momentos transcendentais, como quando você perde alguém muito querido. Por outro lado, morar longe tem fortalecido muito o relacionamento com meu marido. Somos uma equipe muito unida e feliz, que tem enfrentado muitas coisas. Temos crescido bastante juntos. Isso nos dá uma base sólida para darmos o melhor exemplo para os nossos dois filhos. Já no lado profissional, o meu maior desafio é balancear a visão estratégica com a visão tática. O negócio pelo qual sou responsável está atravessando uma fase de transformação profunda local, regional e global, que demanda adequações estratégicas relevantes. Ao mesmo tempo, não podemos perder o foco na entrega de resultados no curto e médio prazo. Encontrar o equilíbrio entre essas duas forças é meu principal desafio como líder.
MM360: Você disse que é casada e tem dois filhos. Como foi o retorno da licença-maternidade e quais foram os principais desafios?
Rocio: O retorno foi agridoce. Adoro meu trabalho e sentia falta do desafio intelectual, mas, ao mesmo tempo, sinto falta de passar mais tempo com meus dois filhos. Com o tempo, as coisas vão se ajeitando e você, como mãe, vai ficando mais eficiente para lidar com as diferentes demandas. É importante ter claro que você é uma única pessoa, e que o lado pessoal não precisa estar sempre em conflito com o profissional. Para isso, ajuda muito quando você sabe quais são as suas prioridades de vida e tem o seu propósito bem claro.
MM360: Quais iniciativas a empresa ofereceu e ajudaram no avanço de sua carreira?
Rocio: Sempre tive um diálogo muito aberto com meus gestores. O suporte que elas e eles me deram foi muito importante no avanço da minha carreira. O Citi tem programas de desenvolvimento/liderança muito efetivos, assim como programas de mentoring e coaching, os quais aproveitei – e continuo aproveitando – bastante.
MM360: Acredita que as mulheres estejam mais empoderadas nas grandes empresas?
Rocio: Acho que tem melhorado, mas ainda temos muito o que fazer. Sinto falta de mulheres sêniores nos conselhos de administração das grandes empresas, assim como na alta diretoria. O impacto positivo que a diversidade (não unicamente de gênero) tem no resultado das empresas é conhecido e discutido há muito tempo. Existe muito foco nas grandes empresas para criar mais diversidade e inclusão, mas os números ainda não acompanham essa necessidade de forma contundente.
MM360: Na sua opinião, quais são os maiores desafios das mulheres nas empresas?
Rocio: Os vieses inconscientes que as mulheres têm que enfrentar no ambiente de trabalho. Precisamos trazer esses vieses para o plano consciente – onde podem ser discutidos e trabalhados de forma mais assertiva.
MM360: Teria alguma dica ou recado para jovens mulheres que estão entrando no mercado de trabalho com ambição de chegar em cargos de liderança?
Rocio: Gosto de dividir as principais lições que aprendi até agora para ver se posso ajudar de alguma forma. Tenho a boa sorte de trabalhar com pessoas incríveis, que me forçaram sair da minha zona de conforto. Isso me motiva e me impulsiona a ser sempre a melhor versão de mim mesma. Aprendi que não existe substituto para a dedicação, mas que você tem que se dedicar ao trabalho de uma forma alinhada com seu propósito e sempre mantendo o equilíbrio. Aprendi que é importante estar rodeado de pessoas melhores do que você, ou que complementem as suas forças, que tenham fortes valores e caráter irretocável. Aprendi que você tem que ter muito orgulho do que você faz e que tem que estar disposta sempre a desafiar o status quo. Mas o mais importante que aprendi é sempre manter a curiosidade, porque você nunca para de aprender. Enfim, ser um modelo em que as novas gerações possam se espelhar e facilitar o caminho para outras mulheres crescerem também.