"Toda empresa que busca estruturar um processo de impacto social em suas comunidades precisa envolver o nivelamento da base educacional como parte desse processo", diz Daniela Cantinelli
No mundo corporativo atual, investir em iniciativas sociais vai além de uma responsabilidade, tornando-se uma necessidade imperativa para impulsionar uma transformação positiva. Empresas visionárias estão liderando esse movimento ao direcionar seus esforços para educação, formação e geração de renda de grupos socialmente vulneráveis. Neste contexto, o Alicerce Edu surge como uma peça-chave, desempenhando um papel vital na construção de bases sólidas para comunidades em busca de oportunidades.
Em entrevista exclusiva para o Movimento Mulher 360, Daniela Cantinelli, Diretora de Desenvolvimento de Projetos Empresas & Filantropia, apresenta a inspiração por trás da criação dessa organização, sua atuação para promover a educação de base, especialmente para grupos minorizados, e o legado que tem construído ao longo dos anos.
“Desenvolvemos projetos específicos voltados para grupos que enfrentam diversas formas de discriminação e desigualdade, como mulheres, pessoas com deficiência, pessoas negras e da comunidade LGBTQIAP+. Acreditamos que, por meio da educação, podemos romper o ciclo de pobreza que afeta muitas comunidades e proporcionar oportunidades transformadoras”, conta a executiva.
“Para tornar isso possível, trabalhamos em parceria com empresas que valorizam a diversidade e desenvolvemos projetos educacionais que têm como objetivo melhorar a base educacional e as habilidades profissionais dessas pessoas”, complementa.
Leia a entrevista na íntegra para compreender como a sinergia entre empresas engajadas e iniciativas educacionais como o Alicerce Edu pode moldar um futuro mais sustentável e equitativo.
Como surgiu o Alicerce e qual foi a inspiração por trás da criação de uma organização focada em reduzir desigualdades educacionais?
Ao olharmos com atenção para as pessoas que compõem o mercado de trabalho, identificamos que a escassez de profissionais qualificados está diretamente relacionada à carência de acesso à educação básica.
A criação do Alicerce foi impulsionada pelo estado alarmante do sistema educacional brasileiro. De acordo com as estatísticas do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Alunos), 95% da população não possui uma base educacional sólida. Esse problema tem implicações profundas não apenas na vida das pessoas, mas também na economia e no desenvolvimento social do país.
O propósito do Alicerce, como seu nome já diz, é criar um alicerce sólido na educação de cada criança, jovem e pessoa adulta, para que possam ter um futuro com mais oportunidades. Diante desse desafio, o Alicerce se destaca ao adotar uma abordagem inovadora. Diferentemente de outros cursos educacionais, nossa iniciativa se concentra na recuperação da base educacional de estudantes de todas as idades.
Para concretizar essa missão, é essencial alcançar as pessoas que mais necessitam e sofrem com a precarização da educação. Assim desenvolvemos soluções B2C e B2B, onde adotamos as melhores práticas educacionais do mundo e metodologias ágeis, oferecendo-as a preços acessíveis por meio de dois serviços: o contraturno escolar, direcionado a crianças e jovens, e o reskilling (qualificação profissional) voltado para pessoas adultas. Tudo isso é possível graças à colaboração de famílias, grandes empresas, filantropos e parcerias público-privadas.
Pode nos explicar como vocês atuam para promover a educação de base, especialmente para grupos minorizados? Quais são os principais programas e iniciativas oferecidos para mulheres, considerando as suas interseccionalidades?
O Alicerce tem como parte central de sua missão atender públicos em situação de vulnerabilidade social. Reconhecemos que para combater o ciclo de pobreza no Brasil, é fundamental proporcionar acesso à educação de qualidade às populações mais vulneráveis.
Por isso, nossa iniciativa se concentra em crianças, jovens e pessoas adultas que enfrentam desafios socioeconômicos significativos, incluindo a população das classes C, D e E. Além disso, desenvolvemos projetos específicos voltados para grupos que enfrentam diversas formas de discriminação e desigualdade, como mulheres, pessoas com deficiência, pessoas negras e da comunidade LGBTQIAP+.
Hoje o Alicerce oferece inúmeras soluções trabalhadas dentro de duas frentes prioritárias, o contraturno escolar para crianças e adolescentes e a qualificação profissional, o único produto de qualificação profissional que trabalha de forma totalmente integrada ao processo de diagnóstico e nivelamento de base educacional.
Para tornar isso possível, trabalhamos em parceria com empresas que valorizam a diversidade e desenvolvemos projetos educacionais que têm como objetivo melhorar a base educacional e as habilidades profissionais dessas pessoas.
Qual é o legado que o Alicerce tem construído ao longo da sua existência?
A iniciativa do Alicerce tem como objetivo primordial gerar um impacto altamente positivo na vida de cada estudante, com um foco na democratização do acesso à educação de alta qualidade. Acreditamos que, por meio da educação, podemos romper o ciclo de pobreza que afeta muitas comunidades e proporcionar oportunidades transformadoras. Nossa ambição é impactar diretamente a vida de 10 milhões de pessoas por todo o Brasil, com o objetivo de reverter a estatística alarmante que revela que 95% da população brasileira está abaixo do nível 3 no Pisa.
Qual é a importância de envolver o mercado corporativo no incentivo à educação? Como isso contribui para o desenvolvimento sustentável da comunidade e do mercado como um todo?
A educação de base está por trás de todos os grandes desafios do Brasil e as empresas acabam sendo vítimas desse enorme apagão educacional, já que as pessoas que estão no mercado de trabalho não possuem conhecimentos básicos, como português e matemática, o que dificulta a qualificação e a evolução profissional. Toda empresa que busca estruturar um processo de impacto social em suas comunidades precisa envolver o nivelamento da base educacional como parte desse processo.
Quais recomendações vocês dão para as lideranças que desejam investir em iniciativas relacionadas à educação para formar e atrair talentos diversos e não sabem por onde começar?
Ao longo dos últimos anos, observou-se uma evolução significativa nas empresas, que passaram a adquirir uma maior consciência de seu papel e reconheceram a oportunidade de se tornarem agentes ativos na promoção da inclusão de públicos minorizados no ambiente corporativo. Não apenas pela responsabilidade de ser parte da solução para a diminuição das desigualdades sociais, mas também pela oportunidade de contar com uma diversidade maior de pensamentos e perspectivas como representatividade da sociedade brasileira nos seus quadros internos.
A minorização de grandes comunidades no Brasil acontece desde o acesso à educação básica. Então, não tem como estruturar uma estratégia de impacto social, sem incluir uma intervenção no alicerce das pessoas. E as empresas, em especial, as lideranças, têm o poder de transformar essa realidade, de transformar a vida das pessoas por meio da educação.
Um exemplo disso é a parceria com a Suzano, que desejava desenvolver os eixos econômico, ambiental e social das comunidades da região de Ribas do Rio Pardo e Campo Grande e, ao mesmo tempo, ampliar a inclusão de mulheres no mercado de trabalho. Trabalhamos a qualificação profissional e o fortalecimento da base escolar, junto de habilidades para a vida. Além disso, temáticas personalizadas associadas à cultura organizacional Suzano e cultura fabril. Foi um projeto muito importante de empoderamento para essas mulheres, preparando-as para novas oportunidades e recuperando o sentimento de pertencimento que elas haviam perdido com o tempo.
Por meio da educação, temos o poder de catalisar uma transformação impactante para talentos que foram subestimados pela sociedade, necessitando apenas de uma oportunidade para se destacarem.