Trabalhar não significa abandonar a maternidade
“Eu, particularmente, não nasci para exercer o papel de mãe 24h por dia, e não me culpo por isso. Também gosto de ser filha, esposa, profissional, irmã, amiga”.
É assim que Carolina Ignarra, uma das 20 mulheres mais poderosas do País segundo a revista Forbes, apresenta um outro olhar sobre a relação da maternidade com o mercado de trabalho.
Em entrevista ao Movimento Mulher 360, a co-fundadora da consultoria Talento Incluir fala sobre os desafios de conciliar os filhos com a carreira e como esse período de home office com a casa cheia pode impactar positivamente as discussões sobre equidade de gênero dentro das empresas. Confira.
MM360 – Na sua percepção do mercado e vivência pessoal, quais são os principais desafios das mulheres para conciliar maternidade e carreira?
Entendo que o primeiro desafio é o de se livrar das crenças limitantes oriundas do sexismo. Essas crenças que colocam muitas responsabilidades na mulher mãe. Por exemplo, mãe tem que saber tudo sobre o filho, ir às reuniões da escolinha, fazer a lancheira da criança. Eu não tenho sexto sentido e não adivinho quando minha filha está com algum problema. Também aconteceu do meu marido ir sozinho a várias reuniões na escola, porque eu estava viajando a trabalho. E tudo bem!
Eu fiz uma única vez a lancheira da minha filha. Foi tão emblemático esse momento pra mim, que me lembro de ter feito um recadinho com “eu te amo” pra Clara ler no recreio.
Mães precisam entender quem de fato são, e o que gostam de fazer. De uma coisa eu tenho certeza, eu, particularmente, não nasci para exercer o papel de mãe 24h por dia, e não me culpo por isso. Também gosto de ser filha, esposa, profissional, irmã, amiga. Tenho muitos papéis na vida. Ir trabalhar não significa o abandono da maternidade.
MM360 – Quais os avanços que já tivemos nesta questão e onde podemos avançar mais?
Vejo avanços na cultura da sociedade como o machismo diminuindo. Cada vez mais os casais dividem as responsabilidades de casa e filhos, o que dá mais espaço e liberdade para a mulher. Além de gerar empatia nos homens em relação a soma de responsabilidades profissionais e pessoais.
Acredito que podemos avançar em políticas sociais e empresariais que considere o princípio da equidade. Entendo que igualar mulheres e homens é uma tentativa de “normalizar” as diferenças. E devemos respeitar as diferenças e não anulá-las.
MM360 – Neste período de quarentena, em que muitas pessoas estão fazendo home office, tem se discutido sobre a necessidade de as empresas terem empatia e um olhar mais atento e cuidadoso, principalmente, para as mães e pais. Como você avalia isso?
Ser produtiva com criança pequena pedindo atenção é humanamente impossível para homens e mulheres. Se eu estivesse vivendo esta situação, provavelmente estaria organizando horários para cuidar da criança em uma planilha (risos).
Quando os pais estão empregados em uma empresa, com equipe para apoiar e dar suporte, acredito que aliviar as metas e horários de trabalho são atitudes essenciais.
MM360 – Você acredita que, ao passarmos por esse período, as discussões sobre licença parental e horários de trabalho mais flexíveis, por exemplo, ganharão um outro olhar por parte das lideranças nas empresas?
Esse momento que estamos vivendo mudará muito a mentalidade dos empregadores e dos profissionais também. Estamos mais solidários, humanizados, empáticos.
O pai poder participar mais dos primeiros meses de vida da criança é maravilhoso e essencial. Muda tudo! Eu tenho um primo vivendo esta realidade. A esposa trabalha e ele que cuida do bebê. Não conheço pai mais feliz que ele. Essa mudança já está atrasada, é pra ontem!