"Respeitar o direito à equidade de gênero é fazer o que é certo”, diz Rubens Weg, da Bayer do Brasil
Em uma conversa sobre o papel dos homens na equidade de gênero em ambientes corporativos, Rubens Weg, Gerente Geral da Divisão Farmacêutica da Bayer do Brasil, conta como surgiu a ideia de ser sponsor do All In, grupo de trabalho que tem a responsabilidade de identificar melhorias em assuntos relacionados ao tema de gênero dentro da empresa. Ele considera primordial envolver homens na discussão para diminuir as disparidades entre eles e elas no mercado de trabalho, uma vez que eles, no geral, são maioria em posições-chave nas empresas.
Confira a entrevista na íntegra.
MM360: Qual é a sua função atual e trabalha na Bayer desde quando?
Rubens Weg: Trabalho na Bayer desde julho de 2007 e atualmente ocupo a posição de Gerente Geral da Divisão Farmacêutica da Bayer do Brasil.
MM360: Como e quando começou a se envolver com a causa equidade de gênero?
Rubens Weg: Comecei a me envolver com o tema equidade de gênero entre o final do ano de 2016 e o início do ano de 2017. Inicialmente, a questão (entre outros temas de diversidade) foi debatida em nossa reunião mensal de Conselho. Como resultado desta reunião, fui selecionado para ser o sponsor do grupo de trabalho de equidade de gênero – hoje conhecido como All In. Desde então, venho cada vez mais me aprofundando no tema e aprendendo as dimensões que ele tem não somente na Bayer, mas também na sociedade como um todo.
MM360: Por que considera importante o envolvimento dos homens para diminuir as disparidades entre homens e mulheres no ambiente corporativo?
Rubens Weg: Por uma razão muito simples: como por questões históricas/culturais os homens ocupam muito mais posições de decisão e liderança no mundo, cabe a nós a responsabilidade de reverter esta situação. Nós homens, historicamente, tivemos inúmeros benefícios pelo simples fato de sermos homens. Muitas mulheres podem ter sido prejudicadas em seu desenvolvimento social/profissional por este mesmo motivo.
MM360: O que tem feito para disseminar o assunto na empresa?
Rubens Weg: Conforme mencionei, sou o sponsor da causa equidade de gênero na Bayer do Brasil. A partir das discussões do All In, onde conseguimos efetuar diversos diagnósticos desta falta de equidade, traçamos planos de ação para trazer o equilíbrio onde ele estiver com déficit.
Nós do All In temos ciência de que mesmo a partir do momento que identificamos oportunidades de melhorias, não podemos simplesmente ir implementando aquilo que consideramos correto sem levar em consideração a sensibilidade do tema (por exemplo, a resistência que se pode eventualmente encontrar dentro da organização, ainda que inconscientemente).
Cada tema é discutido em seus detalhes para que tenhamos os recursos necessários, tanto intelectuais quanto financeiros, para não falharmos na implementação. Sabemos que falhas neste processo de implementação de mudança podem significar retrocessos imediatos e de muito mais dificuldade para se reverter.
MM360: Tem visto maior envolvimento e conscientização dos homens sobre a causa?
Rubens Weg: Sim, tenho visto maior envolvimento dos homens com o tema, mas muito longe do ideal. Acho que o caminho ainda é muito longo e sinuoso.
MM360: Na sua opinião, qual é o papel dos homens para alcançarmos a equidade de gênero no ambiente corporativo?
Rubens Weg: Conforme comentado, temos uma enorme responsabilidade com o tema. Temos de nos desafiar constantemente para que cada processo de promoção/contratação, por exemplo, tenha completa isenção dosvieses de gênero quer sejam eles conscientes ou inconscientes. Ainda nos encontramos de um modo geral em maior número em posições-chave e isto nos torna ainda mais responsáveis por promover este tema de modo sério e constante.
MM360: Quais barreiras pessoais e profissionais enfrentou para introduzir o tema na empresa? Como tem feito para superá-las?
Rubens Weg: O tema de um modo geral não é simples. Na empresa, como vocês podem imaginar, temos diversos tipos de desafios que vão desde áreas onde temos predominantemente a presença de homens ou ao contrário, áreas onde temos predominantemente a presença de mulheres. Difícil focar em poucas barreiras, pois a cada momento em que nos aprofundamos no tema, aprendemos algo novo que eventualmente possa nos surpreender.
Temos hoje na Bayer a licença maternidade de 6 meses e licença paternidade de 20 dias. Sem dúvida alguma um grande avanço. Porém será que todos os gestores – ou no mínimo a maioria deles – consegue conviver de modo natural com estas evoluções? Será que um homem que exerça seu direito de licença paternidade possa ainda ser criticado por colegas ou seu próprio gestor?
E no caso dos seis meses das mulheres, será que ainda existe o desconforto com isto ainda que inconsciente? Estes são apenas alguns exemplos de quão complexo e rico o tema é, e de quanto tempo e energia ainda vamos ter de investir se realmente quisermos mudar o status quo.
MM360: Compartilhe algumas dicas de como os homens podem participar da discussão e colaborar para um ambiente de trabalho mais equitativo.
Rubens Weg: O primeiro passo, é realmente admitirmos que “algo” não está correto. A conscientização disto é muito importante e em alguns casos vai requerer coragem e honestidade para admitir.
Outro ponto seria procurar se aproximar de grupos que lidam com este tema para melhor entender a questão. Aprender que os direitos das mulheres são iguais aos dos homens e respeitar isto. Entender que respeitar este direto não é nenhum tipo de favor que estamos fazendo, mas sim, fazer o que é certo. E não se esqueçam: avançar com este tema significa evoluir não somente como profissional, mas também como ser humano.