Iniciativa busca formação, engajamento e empoderamento de mulheres em tecnologia
Em todo o mundo, mulheres apaixonadas por tecnologia ainda sentem que fazem parte de uma minoria. E foi buscando o engajamento, formação e empoderamento dessas mulheres que surgiu a organização sem fins lucrativos Girls in Tech (GiT).
Criada em fevereiro de 2007, nos Estados Unidos, a iniciativa tem o objetivo de acelerar o aumento de mulheres inovadoras, que estão ingressando na indústria da alta tecnologia ou abrindo startups de sucesso.
O GiT foi lançado no Brasil em junho de 2013, em São Paulo, chegou ao Rio de Janeiro em agosto de 2015 e hoje já conta com 11 voluntárias. Conversamos com Monique Almeida, diretora do Girls in Tech Brazil no Rio de Janeiro, que atua na iniciativa desde o final de 2014. Confira:
Movimento Mulher 360: Qual é a estratégia/dinâmica de atuação de vocês no Brasil? A organização realiza quais atividades e com qual frequência?
Monique Almeida: Nossa estratégia é mesclar eventos regionais com os de atuação no Brasil todo. Rio de Janeiro e São Paulo conseguiram ótimos resultados com suas palestras e meetups. Já em nível nacional, realizamos dois eventos de vulto em 2016: o Lady Pitch Night e a Coworking Week.
MM360: O que a fez participar do Girls in Tech?
MA: Participo para criar um mundo onde as mulheres não se limitem, onde possam fazer o que quiserem e saibam que têm potencial para isso sem precisar se transformar em “homens” ou em algo que não são. Cansei de ouvir mulheres me exclamando que eu tinha coragem para as menores decisões da vida, como andar de bicicleta na rua. Quero que elas tenham coragem para viver plenamente, concretizar suas ideias ou sonhos, escalar negócios e impactar bilhões de pessoas. Precisamos de diversidade para enfrentar os desafios deste século e não podemos deixar metade da população às margens desse desenvolvimento.
MM360: De que forma a organização tem sido recebida pela sociedade? Como tem sido o feedback?
MA: Há um levante de projetos e iniciativas que realizam ações para incentivar a participação de mais mulheres em áreas tecnológicas. Buscamos selecionar temas interessantes para nossos eventos regionais, como Transmídia e User Experience, e o feedback que temos tido é muito positivo. As empresas estão cada vez mais dispostas a ajudar projetos como o nosso, e o público tem sido muito receptivo também. Portanto, assim como há mais mulheres interessadas em tecnologia, há mais empresas interessadas em apoiar que haja mais mulheres no setor, ou mesmo que elas alcancem mais cargos de chefia. E uma forma de atrair mais mulheres é apoiando iniciativas como o Girls in Tech.
MM360: Como vocês enxergam a participação e a recepção das mulheres nas áreas STEM? Como é o perfil atual desse público?
MA: Ainda há muito o que melhorar, e isso vale não só para o Brasil, mas para o mundo. É algo que vem desde a educação básica, em que meninas são mais estimuladas para a área de humanas do que para exatas, e o reflexo vemos na faculdade: pouquíssimas alunas nas graduações das áreas STEM e um número menor ainda consegue se formar. Muito tem se conquistado e os números de mulheres nestas áreas têm aumentado, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Falando especificamente da área de tecnologia, houve um aumento de interesse das mulheres, e isso é ótimo. O perfil delas é muito dinâmico, de programadoras em grandes empresas a empreendedoras com suas startups. O interessante é que o universo dessas mulheres se expandiu, e elas estão aí.
MM360: Quais são os principais desafios para a participação das mulheres na tecnologia? O que a sociedade pode fazer para que as mulheres comecem a participar mais dessa área?
MA: Nossa, são muitos. Já são poucas mulheres com formação para esta área, e as que começam a trabalhar com tecnologia sentem dificuldade desde a entrevista ao ambiente de trabalho propriamente dito. Há diversas pesquisas que mostram como, desde muito cedo, as mulheres são desencorajadas a se interessar por estas áreas. A família presenteia as meninas com brinquedos que estimulam o cuidado da casa e dos filhos, enquanto os meninos ganham quebra-cabeças, kits de química e por aí vai. Também há muitos professores que reforçam os preconceitos de gênero ao invés de estimular as meninas em todas as áreas do conhecimento e deixar que elas decidam por si.
MM360: Qual é a melhor forma de lidar com o preconceito? Alguma dica?
MA: Perseverança. Muitos vão tentar lhe desmotivar, mas, se você perseverar, vai conseguir se cercar de pessoas que vão te estimular e ajudar no caminho que deseja trilhar.