Empreendedoras buscam conscientizar empresas em relação à maternidade
Luciana Cattony é publicitária, designer e idealizadora do Real Maternidade, e Susana Zaman é engenheira, especialista em gestão de pessoas e idealizadora da Nutrimãe. A maternidade impulsionou grandes transformações em suas vidas tanto no lado profissional quanto no pessoal. De executivas a empreendedoras, juntas, elas lideram a iniciativa Maternidade nas Empresas, criada em março de 2017.
Elas alinharam a experiência que tiveram nas empresas que trabalharam com a expertise em lidar com as mães em seus negócios. A consequência disso foi a iniciativa que tem a missão de ajudar a construir um ambiente organizacional acolhedor e que valorize a mulher / mãe no mercado de trabalho. As empreendedoras acreditam que a parentalidade inspira e contribui para um ambiente engajador, produtivo e feliz.
De acordo com elas, muitas mulheres, após a maternidade, optam por empreender – não por vontade própria, mas por falta de opção, já que grande parte das empresas não estão preparadas para acolher as mães. “Neste contexto, como consequência, as empresas acabam perdendo grandes e importantes talentos. Por isso, o desejo de levar um novo olhar para as organizações! ”, diz Luciana.
O Movimento Mulher 360 conversou com Luciana e Susana sobre a iniciativa, os desafios das mães e a importância do olhar das empresas para esse assunto.
Movimento Mulher 360: Qual é a dinâmica da iniciativa? E qual é a importância de trabalhar esse tema nas empresas?
Luciana e Susana: Já está comprovado que empresas com mais mulheres na direção dão mais resultado. Para atrair e reter talentos femininos garantindo a diversidade é fundamental que as empresas fomentem uma cultura organizacional que valoriza a mulher/mãe e criem iniciativas e programas que auxiliem a conciliar a vida profissional, familiar e pessoal da maneira mais harmônica possível.
O Maternidade nas Empresas colabora com as empresas na sensibilização, sustentação e na criação de conteúdo. Na sensibilização, há a conversa sobre maternidade / paternidade mostrando que a parentalidade pode inspirar um ambiente de trabalho engajador produtivo e feliz. Na sustentação, há ações e programas de sustentação, que fomentam a valorização da mulher / mãe e a equidade de gênero nas organizações. E, por fim, há a criação de conteúdo para ajudar marcas a se posicionarem de maneira relevante em relação a esse público.
O nosso trabalho contribui para diminuir a insegurança da colaboradora com relação ao seu futuro, aumentar sua satisfação com relação às políticas da empresa, e consequentemente ajudar a manter/crescer a diversidade na corporação e reter talentos.
MM360: Vocês percebem que as empresas têm olhado mais para as mães? Quais são os sinais?
Luciana e Susana: O mercado enfrenta uma escassez de profissionais capacitados e, de acordo com Harvard Business Review, 43% das mulheres altamente capacitadas interrompem suas carreiras pela maternidade. Até aí, não há muita novidade. O que tem sido gratificante é notar que existem empresas que já reconhecem que esse abandono de carreira ocasiona uma considerável perda no seu pool de talentos, o que é extremamente prejudicial. Mais que isso: algumas empresas entendem que é mais benéfico fomentar um ambiente de trabalho que mantenha essas mulheres engajadas, do que buscar novos talentos para substituí-las.
Destacamos a iniciativa “WorkRunners”, na Inglaterra, que ajuda as empresas a se conectarem com talentos femininos que interromperam suas carreiras. Bom para a mãe, bom para as empresas!
No Brasil, iniciativas como Movimento Mulher 360, Empreendedorismo Rosa, De volta ao Trabalho Real Maternidade (baseada na iniciativa global Motherhood Pride) e Maternidade nas Empresas apresentam alternativas para os desafios relacionados à questão de gêneros – a serem vencidos dentro e fora das empresas.
Estamos encontrando receptividade em muitas empresas que visitamos, tanto da liderança quanto dos colaboradores em geral. Como feedback, temos depoimentos emocionados de colaboradores que se identificam com o conteúdo e também da liderança que deseja espalhar esse olhar para todos os níveis da organização.
Novas empresas também chegam até nós pelas redes sociais para que possamos contribuir com ações já promovidas por elas. Notamos que, para algumas delas, esse assunto já faz parte do planejamento estratégico e está genuinamente sendo tratado pela alta direção. Já outras estão iniciando nesta trajetória. Independente do estágio e do nível de maturidade das organizações, acreditamos que qualquer iniciativa nesse sentido contribui positivamente para a mudança de cenário que tanto almejamos. Nossa proposta é trabalhar, juntamente com os nossos clientes, oferecendo soluções prontas e também criando novos projetos “a quatro mãos” adequados à cada realidade. E isso tem sido motivador!
MM360: E quais são as ações e programas que vocês gostariam de destacar como cases nesse sentido?
Luciana e Susana: Temos tido excelentes retornos com o conteúdo “Maternidade: obstáculo ou impulso de carreira?” em que apresentamos estudos e pesquisas que comprovam que as mulheres que são mães, além de mais empáticas, são também mais produtivas. Além disso, na maternidade, a mulher desenvolve habilidades (ou soft skills) que podem ser usadas inclusive na vida profissional: esforço e sacrifício, gestão de recursos, comunicação, liderança, capacidade de improviso, de assumir riscos etc, são algumas habilidades que as mães se tornam “experts” e que podem ser muito bem relacionadas ao ambiente corporativo.
Nossa missão é apresentar esse novo olhar dentro das empresas, despertando consciência e orgulho não somente das mães, como de todos os colaboradores presentes (pais, gestores etc). Afinal, elas estão contribuindo para o desenvolvimento de novos seres humanos e se desenvolvendo enquanto pessoas e por que não profissionais?
O tema “Maternidade: obstáculo ou impulso de carreira?” pode ser oferecido em diversos formatos: palestra presencial, palestra online – em que se pode customizar a ação com a fala de um executivo da empresa – world cafe, grupos de troca e também desdobramos este conteúdo em campanhas de endomarketing para ampliar o alcance e perenidade da ação. Para as Lojas LEBES, por exemplo, além de palestras presenciais, produzimos conteúdo para algumas peças de comunicação interna como: convite para a palestra, cartazete, cards e, inclusive, conteúdo para um jogo americano que foi utilizado por todos os colaboradores no refeitório da empresa, na ocasião da celebração do Dia das Mães. Adoramos aliar criatividade à nossa missão. Isso nos motiva e nos inspira!
MM360: Quais são as reclamações mais comuns que vocês costumam ouvir das mães nas empresas?
Luciana e Susana: Vamos compartilhar algumas delas. Muitas vezes, a partir do momento da notícia da gestação por parte da colaboradora, as oportunidades de novos projetos e crescimento de carreira acabam não acontecendo.
Há também insegurança das mulheres em relação ao retorno pós-licença-maternidade, pela falta de consciência das habilidades desenvolvidas neste período.
Mudança de escopo no retorno do trabalho, o que contribui para insegurança da profissional, impactando na sua performance. Elas afirmam que há dificuldade de conciliar vida profissional e pessoal devido as longas horas de jornada, falta de flexibilidade na carga horária e formato de trabalho.
Outro ponto é o preconceito por parte dos colegas em relação às demandas que uma criança exige.