“As mulheres estão mais empoderadas nas empresas”, diz gerente da White Martins
“As mulheres devem confiar no potencial delas. O autoconhecimento é fundamental”. Com 13 anos de White Martins, Rejane Jardim, gerente do Centro Internacional de Monitoramento e Assistência à Produção (IMPAC) e Novas Tecnologias da White Martins, compartilha essa dica de acordo com sua trajetória.
Rejane entrou na empresa em 2004, como engenheira de Novas Tecnologias, e teve a oportunidade de trabalhar com uma equipe formada por profissionais que, segundo ela, colaboraram com muito aprendizado técnico.
Casada e com dois filhos, entre seus desafios na White Martins, ela destaca a indicação para ser responsável por um projeto internacional. “O projeto deveria ser desenvolvido nos Estados Unidos durante um período de dois meses, e, depois, a implementação seria no México, por um período de um mês”, conta.
Na série #MulheresQueInspiram, Rejane fala sobre seu crescimento na empresa, licença-maternidade, desafios e aprendizados que teve até agora. Confira!
MM360: Como foi o seu desenvolvimento na White Martins?
Rejane: Em 2004, entrei na White Martins como engenheira de Novas Tecnologias. De 2004 a 2011, adquiri um amadurecimento profissional muito grande. Trabalhei com uma equipe composta por engenheiros experientes, que me ensinaram muito, trazendo grande aprendizado técnico. Fiz diversos treinamentos, participei de muitos projetos e foi também um período de muitas viagens em toda a América do Sul, onde os projetos eram instalados. Visando consolidar os conceitos técnicos adquiridos, em 2010, fiz uma pós-graduação em Engenharia Mecatrônica, que me deu um embasamento teórico muito bom.
Em 2011, assumi a gerência de Novas Tecnologias, iniciando uma nova etapa da minha carreira. Apesar de ter sido uma gerência em uma área cuja parte técnica eu conhecia muito bem, gerir pessoas foi um novo desafio. Aprendi como é valioso ter uma equipe engajada, motivada e focada nas metas estabelecidas e como é importante respeitar a opinião e o perfil de cada membro do time. Para me ajudar nessa nova etapa, fiz um MBA em gestão de projetos e muitos outros treinamentos com foco em gestão de pessoas, de tempo, comunicação, etc.
Em 2015, assumi a gerência do IMPAC. Dessa vez, foi um desafio diferente, pois eu já tinha uma experiência maior na gestão de pessoas, mas não tinha tanto conhecimento técnico da área como na gestão anterior. A equipe era bem maior e, além disso, eu teria uma interface muito grande com outras áreas da empresa. Percebi que desenvolvi uma habilidade maior de comunicação para garantir que cada membro da equipe entendesse o que era esperado dele e também o envolvimento de todos como um grupo. Era também necessário trocar informações constantemente com as outras áreas, para que todos seguissem na mesma direção e, desta forma, cumprirmos as metas da empresa.
Nesse período, concluí um curso de gestão financeira, que foi muito importante. Aprendi a elaborar informações a partir de dados numéricos, com base na matemática financeira, para facilitar a tomada de decisões. Fiz também treinamentos sobre diversidade, viés inconsciente, liderança, etc. Essas capacitações foram muito importantes, pois um gestor lida com os aspectos humanos, e as habilidades de condução de grupos devem ser sempre levadas em conta, sem esquecer o foco nos resultados e no sucesso organizacional.
Em 2017, recebi o convite para ser novamente gerente da área de Novas Tecnologias e continuar com a Gerência do IMPAC. Meu desafio agora é gerir duas áreas, dando o tratamento e o cuidado necessários para cada uma e para as equipes de forma individual.
MM360: Quais foram os principais desafios pessoais e profissionais?
Rejane: O desafio está no nosso dia a dia. Conciliar a vida profissional com a pessoal não é fácil, e a minha felicidade depende do equilíbrio adequado entre ambas. Em 2009, por exemplo, fui indicada para ser a responsável pela instalação de uma nova tecnologia da empresa no México. O projeto deveria ser desenvolvido nos Estados Unidos durante um período de dois meses, e depois a implementação seria no México por um período de um mês.
Fiquei muito feliz com o desafio profissional, mas, ao mesmo tempo, preocupada. Não sabia como eu conseguiria ficar três meses longe da minha filha que, na época, tinha apenas dois anos. Depois de negociações tanto na minha empresa quanto na empresa do meu marido, consegui concluir o projeto mantendo o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Meu marido tirou um mês de férias na empresa em que ele trabalhava e conseguiu negociar ficar um mês no exterior para fazer um curso de idioma, permitindo que ele e minha filha fossem passar os dois meses nos Estados Unidos comigo.
Esse período que passamos juntos em outro país, além de ter me dado grande experiência profissional, me trouxe uma vivência pessoal inesquecível junto com a minha família. Antes de ir para o México implementar o projeto, negociei com a minha empresa ficar uma semana no Brasil para organizar como ficaria o dia a dia da minha filha na minha ausência durante os 30 dias que ficaria fora. Fui então para o México com a minha vida pessoal organizada e com muito foco e determinação para finalizar o projeto com sucesso, atingindo todos os resultados esperados.
MM360: Como foi o retorno da licença-maternidade e quais foram os principais desafios?
Rejane: Sou casada, tenho dois filhos e o desafio é saber conciliar a vida profissional com a pessoal. Minha filha mais velha, que hoje está com 10 anos, precisa muito do meu apoio nas tarefas escolares, e o meu filho mais novo, que hoje está com quatro anos, está naquela fase que quer ficar brincando comigo. Então, todos os dias à noite, quando chego do trabalho, divido o meu tempo entre as crianças e os afazeres domésticos, pois tenho que deixar tudo organizado para o dia seguinte.
O retorno da licença-maternidade da minha filha foi bem planejado, mas mesmo assim teve aquela dorzinha inevitável de se separar do bebê. No último mês da licença, resolvi iniciar uma pós-graduação aos sábados. Foi uma forma que encontrei para que minha filha fosse se acostumando aos poucos com os períodos em que eu não estava em casa, e também para que eu me adaptasse ao retorno da vida profissional. E na volta da licença-maternidade do meu filho, usei a mesma estratégia: no último mês da licença, iniciei um curso de gestão aos sábados, que também foi uma espécie de preparação tanto para mim quanto para o meu filho.
MM360: Quais iniciativas que a empresa ofereceu que ajudaram no avanço da sua carreira?
Rejane: Além desse projeto internacional pelo qual fui responsável, tive diversos treinamentos técnicos e de gestão que contribuíram muito para o meu avanço profissional. Sem falar na confiança que a White Martins sempre teve no meu trabalho e no meu comprometimento, me envolvendo em diversos projetos desafiadores que me trouxeram grande aprendizado. A White Martins tem uma posição ativa na discussão da inclusão e da diversidade, oferecendo ferramentas importantes para o desenvolvimento profissional.
MM360: Acredita que as mulheres estejam mais empoderadas nas grandes empresas?
Rejane: Acredito que as mulheres estejam mais empoderadas quando olhamos as empresas como um todo. Apesar do maior número de mulheres nas empresas quando comparamos com o passado recente, o número de cargos de liderança ocupados por elas ainda não é expressivo. Vivemos uma realidade em que é possível observar que a participação da mulher na empresa vai caindo conforme aumenta o nível hierárquico.
Precisamos de empresas em que a igualdade de oportunidades esteja refletida em todas as áreas, inclusive nos setores hierárquicos mais altos, que definem os rumos e estratégias da empresa. Pesquisas apontam que quanto mais alto o cargo e a escolaridade, maior é a desigualdade de gênero, indo contra os índices que mostram que as mulheres têm uma escolaridade maior do que a dos homens no Brasil.
MM360: Na sua opinião, quais são os maiores desafios das mulheres nas empresas?
Rejane: O maior desafio das mulheres nas empresas, em minha opinião, é o equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira. A questão da maternidade pesa contra as mulheres que têm que se dividir com a responsabilidade profissional. O segundo maior desafio é a desigualdade de oportunidades. Mesmo nos dias atuais, as melhores oportunidades ainda são oferecidas preferencialmente aos homens.
MM360: Teria uma dica ou recado para jovens mulheres que estão entrando no mercado de trabalho com ambição de chegar em cargos de liderança?
Rejane: Em primeiro lugar, as mulheres devem confiar no potencial delas. O autoconhecimento é fundamental. Em segundo lugar, elas devem aprender a fazer uma boa gestão do tempo, para equilibrar a vida profissional com a pessoal e, em paralelo, dividir tarefas e responsabilidades em casa.
As mulheres que acreditam em seu próprio potencial e capacidade, que sabem fazer um bom controle do tempo e que almejam um cargo de liderança devem se preparar por meio de uma boa formação acadêmica interdisciplinar, focar no constante aprendizado, alcançar alto nível de excelência nas funções que exercem, buscar engajar e inspirar as pessoas ao seu redor e buscar experiências que lhes permitam desenvolver competências necessárias para um cargo de liderança.
Já está provado que o crescimento sustentável das empresas só acontecerá com a igualdade de gênero dentro do ambiente de trabalho. Por isso, as mulheres devem estar preparadas para romper as barreiras invisíveis, advindas da nossa cultura e da sociedade.