Brasil tem 96,6% dos conselhos sem presença de pessoas negras e apenas 12% das cadeiras ocupadas por mulheres

Mesmo com o avanço da qualificação e da conscientização sobre a importância da diversidade, a presença de mulheres negras nos conselhos de administração no Brasil segue tímida. Dados da B3, revelam que 96,6% das empresas com ações na bolsa não têm sequer uma pessoa negra no conselho, e apenas 12% das cadeiras são ocupadas por mulheres, segundo o estudo Women at the Top, do Evermonte Institute.
Esses números evidenciam uma realidade persistente: as estruturas de poder e decisão seguem majoritariamente masculinas e brancas, deixando de fora mulheres negras, que representam uma parcela significativa da população e têm acumulado preparo para ocupar esses espaços.
Para Jandaraci Araújo, conselheira, especialista em finanças e liderança feminina, há uma crescente mobilização de mulheres negras na busca por qualificação, mas isso ainda não tem se refletido em representatividade efetiva, visto que elas continuam ocupando apenas 1% dos cargos em conselhos administrativos.
“Mais mulheres estão se preparando, e isso é fundamental. Mas, para que essa qualificação se converta em ocupação efetiva, é preciso enfrentar as barreiras estruturais, revisar os modelos de recrutamento e implementar com seriedade políticas como a cota prevista no PL 1246/2021”, afirma.
O Projeto de Lei 1246/2021, aprovado em junho deste ano, propõe que 30% das cadeiras nos conselhos de administração de empresas estatais sejam ocupadas por mulheres, sendo 30% dessas vagas destinadas a mulheres negras ou com deficiência. A proposta busca acelerar a inclusão de grupos historicamente marginalizados e impulsionar transformações estruturais na governança corporativa.
A importância da diversidade nos conselhos vai além da representatividade. Um estudo conduzido pelas pesquisadoras Margarethe Wiersema (Universidade da Califórnia) e Louise Mors (Copenhagen Business School) mostra que a presença feminina melhora a qualidade das decisões tomadas nesses espaços e reduz riscos. A pesquisa entrevistou líderes que atuaram em mais de 200 empresas de capital aberto na Europa e nos Estados Unidos, reforçando que a inclusão é estratégica para os negócios.
Ainda assim, o cenário brasileiro caminha lentamente. Segundo levantamento da B3, 37% das companhias listadas não têm nenhuma mulher no conselho de administração, enquanto 90% não contam com executivos pardos e a presença de conselheiras negras é praticamente nula.
O desafio da equidade de gênero nos espaços de liderança passa, necessariamente, por ações que promovam também a equidade racial. Valorizar o protagonismo de mulheres negras é um passo essencial para a construção de um ambiente corporativo verdadeiramente diverso e representativo.
No site do Movimento Mulher 360, você encontra outros conteúdos que aprofundam essa discussão e destacam iniciativas que buscam ampliar a presença e a voz das mulheres negras no mundo do trabalho. Como o terceiro episódio do MM360Cast, que contou com a presença de Nina Silva, do Movimento Black Money, Letícia Kissu da área de Diversidade & Inclusão do Santander e Valquiria Silva, líder do Sub Comitê Vivo Afro, na Telefônica VIVO, para trazer como apoiar as mulheres negras na prática. Além disso, está disponível para download nosso e-book Atração e desenvolvimento de mulheres negras
Com informações de Forbes
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