Aos 40 anos, mulheres transformam suas carreiras em busca de bem-estar e propósito

Aos 40 anos ou mais, muitas mulheres estão reescrevendo suas histórias profissionais. O que antes era visto como estabilidade passou a ser questionado por uma nova geração de lideranças femininas que valorizam bem-estar, propósito e autonomia. Dados da Deloitte mostram que 53% das mulheres relatam níveis de estresse mais altos que no ano anterior e quase metade afirma estar em burnout. Esse esgotamento é apontado como o principal motivo para que 40% delas estejam em busca ativa de novos empregos. Mais da metade das entrevistadas planeja deixar seus cargos nos próximos dois anos, e apenas 10% pretendem permanecer mais de cinco anos na mesma organização.
Mas essa ampliação de mentalidade só é possível devido a uma mudança cultural na relação das mulheres com o trabalho. Se décadas atrás a permanência em uma empresa era sinal de conquista, hoje o que ganha espaço é a coragem de mudar. A transição de carreira, antes associada a riscos, passa a ser vista como ato de autoconhecimento e de resistência.
“A ampliação do acesso à educação continuada, a ascensão do empreendedorismo feminino e a popularização de modelos de trabalho mais flexíveis, como o home office e as jornadas híbridas, têm aberto espaço para essas mudanças. Além disso, há um fator emocional importante: o reconhecimento de que cuidar da saúde mental e da qualidade de vida não é luxo, mas prioridade”, avalia Ana Tomazelli, psicanalista e Presidente do Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino.
Contrariando o mito de que “aos 40 é tarde para começar de novo”, elas provam que esse é um momento de potência. Histórias de executivas que deixam altos cargos para empreender, de profissionais que migram para a carreira freelancer ou mesmo de quem decide pausar para reencontrar seus desejos pessoais têm ganhado cada vez mais espaço.
“Existe um despertar coletivo. Mulheres maduras estão percebendo que têm direito à felicidade profissional e que nunca é tarde para perseguir o que realmente importa”, destaca Ana Tomazelli.
Mas os desafios ainda são significativos. Um deles é o preconceito etário. Segundo a pesquisa Diversity Matters Brazil 2024, da McKinsey & Company, 47% das profissionais acima de 40 anos relatam já ter sofrido discriminação etária em processos seletivos ou promoções. A barreira não é apenas simbólica: ela contribui para a evasão feminina do mercado corporativo.
Além disso, há o peso da responsabilidade financeira: 49,1% dos lares brasileiros têm mulheres como principais provedoras, segundo a PNAD/IBGE. Essa realidade torna mais difícil assumir riscos na transição de carreira ou na abertura de novos negócios. No campo emocional, também surgem obstáculos como a síndrome da impostora, o medo de fracassar e a falta de apoio de familiares ou colegas.
Apesar disso, novos caminhos estão se consolidando. Políticas de diversidade etária, programas de qualificação e acesso a crédito para empreendedoras têm fortalecido a presença de mulheres 40+ no mercado. O empreendedorismo se destaca: segundo o Sebrae, o Brasil registrou 10,35 milhões de mulheres donas de negócios no fim de 2024. A pesquisa GEM 2024 reforça essa tendência, mostrando que empreendedoras mais velhas têm 35% mais chances de manter negócios sustentáveis por mais de cinco anos do que as mais jovens.
“Essas mulheres têm clareza sobre o que querem construir. Muitas não buscam apenas rentabilidade, mas um alinhamento entre trabalho, valores pessoais e impacto social. Isso muda completamente o perfil do empreendedorismo feminino brasileiro”, afirma Tomazelli.
Com informações de assessoria de imprensa
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