Entre barreiras históricas e baixa representatividade, pesquisadoras negras conquistam espaço e apontam novos caminhos para a ciência

Cientistas negras de diferentes gerações e áreas do conhecimento estão fazendo ciência, apesar dos desafios. É o que conta a série “Cientistas Negras”, lançada pela TV UFMG durante este mês de agosto. A produção busca dar visibilidade a mulheres que, mesmo diante de desigualdades de gênero e do racismo estrutural, ocupam espaços no meio acadêmico e inspiram novas gerações a seguirem carreiras científicas.
O retrato da desigualdade fica evidente nos números. De acordo com levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da UERJ (Gemaa/UERJ), em 2023, mulheres pretas, pardas e indígenas representavam apenas 2,5% do corpo docente em programas de pós-graduação nas áreas de ciências exatas, da terra e biológicas. Mulheres brancas somavam 29,2%, enquanto homens brancos, ainda maioria, chegavam a quase 61%. A falta de representatividade reforça estereótipos e dificulta a identificação de jovens negras com carreiras científicas.
Maria Aparecida Moura, primeira professora titular negra da história da UFMG, abre o primeiro episódio refletindo sobre esse contexto: “Nós somos raras. Nós somos a primeira que faz pesquisa tal, a primeira professora titular negra da universidade, então nós somos sempre as primeiras a acessar, porque nós fomos aquelas que lutaram bravamente até aqui”.
As histórias apresentadas na série se conectam a uma agenda global. Desde 2015, a ONU instituiu 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, lembrando que a representatividade feminina na pesquisa é essencial para alcançar a igualdade de gênero e para o cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável. Mais do que abrir portas, garantir a presença de mulheres negras na ciência fortalece a democracia e amplia a diversidade nos espaços de decisão.
O cenário também passa por mudanças estruturais. Em 2024, a Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 1.958/21, que amplia a reserva de vagas em concursos públicos de 20% para 30%, incluindo pessoas negras, indígenas e quilombolas. A medida representa mais um passo para reduzir desigualdades históricas no acesso a cargos públicos.
Em depoimento na série, a professora Maria Aparecida, da Escola de Ciência da Informação (ECI), resume o impacto da representatividade: “Ser uma pesquisadora negra é isso: é levar essa cientista negra que nasceu na favela nos anos 90 para esse universo, e fazer com que essa menina possa fazer brilhar, a partir do meu gesto, os olhos de outras meninas”.
A série Cientistas Negras está disponível no canal da TV UFMG no YouTube e terá três episódios com depoimentos de pesquisadoras da universidade. O primeiro episódio pode ser assistido aqui.
Com informações de TV UFMG e Agência Brasil