Do campo à gestão: como as mulheres estão abrindo novas fronteiras no agronegócio

A participação das mulheres no agronegócio brasileiro cresce em qualificação, inovação e protagonismo, mas ainda enfrenta desigualdades que limitam seu pleno potencial. Hoje, elas representam apenas 34% da força de trabalho no setor, enquanto a média de mulheres inseridas na economia nacional é de 43,7%, aponta pesquisa da FGV.
Mesmo assim, elas têm ocupado cada vez mais espaços estratégicos: de acordo com a pesquisa “Mulheres no Agro”, da Abag e do Senar, 56% das produtoras rurais têm ensino superior completo, frente a 31% dos homens. Além disso, 30% delas estão em cargos de gestão das propriedades, desempenhando papel direto nas decisões sobre produtividade, inovação e sustentabilidade.
O estudo mostra também que as mulheres do campo têm se engajado mais em capacitações técnicas e no uso de tecnologia: 45% delas relatam participação em cursos de atualização, contra 31% dos homens. Essa busca por conhecimento reflete uma disposição em modernizar os negócios rurais e em ocupar posições estratégicas.
Apesar disso, os desafios persistem. Pesquisas da Deloitte apontam que 62% das mulheres do setor veem o baixo número de líderes femininas como uma barreira para avançar em cargos diretivos. Outras 57% citam a falta de políticas institucionais de inclusão e 35% relatam não se sentirem ouvidas em espaços associativos. O preconceito de gênero também segue presente: um levantamento da Abag mostra que 44% das profissionais já sofreram preconceito sutil e 30%, preconceito explícito.
Além disso, questões estruturais como a sobrecarga com cuidados familiares, disparidades salariais — que chegam a 18% em relação aos homens — e a baixa representatividade em cargos de liderança continuam limitando o pleno potencial feminino no agro.
Nesse cenário, iniciativas de empresas do setor têm buscado abrir caminhos. A Bayer, empresa associada ao Movimento Mulher 360, desenvolve o programa Conexão Mulheres no Agro, que desde 2020 já impactou mais de 15 mil participantes com mentorias, trilhas de capacitação e jornadas de conhecimento.
“É necessário estabelecer ações intencionais e consistentes de inclusão, além de garantir a existência de ambientes seguros e acolhedores em toda a cadeia produtiva. Desde processos seletivos mais inclusivos até programas de formação, escuta ativa, valorização da diversidade regional e combate a todas as formas de discriminação”, afirma Francila Calica, diretora de Assuntos Corporativos de Biotecnologia da Bayer.
A executiva revela ainda que a diversidade é motor de inovação: “O que tenho aprendido ao longo da minha trajetória é que trabalhar em equipes multidisciplinares, com diversidade em todos os âmbitos e com bagagens distintas é uma maneira muito eficiente de desafiar o status quo e encontrar soluções criativas, algo cada vez mais necessário frente às transformações que temos vivido nos negócios, nas relações e no mercado de trabalho”, reforça.
A Bayer estabeleceu metas claras para ampliar a participação feminina: no Brasil, já são 42% de mulheres em cargos de liderança, e a ambição é alcançar a igualdade de gênero até 2030. Na divisão agrícola, o percentual é de 34,3%, com presença crescente em pesquisa e desenvolvimento.
Esses avanços demonstram que, embora o caminho seja desafiador, as mulheres estão conquistando um espaço cada vez mais relevante no agronegócio, e que iniciativas estruturadas de inclusão são fundamentais para acelerar esse processo.
Com informações de meio & mensagem.
Leia mais
Pesquisa da to.gather revela qual será o futuro do trabalho de DEI nas empresas brasileiras