Thaisa Thomaz
Como a vulnerabilidade incentiva a autoaceitação no ambiente de trabalho e nos torna líderes mais completos
A vulnerabilidade pode parecer inapropriada quando falamos do ambiente corporativo, mas ela foi fundamental para que eu pudesse me aceitar e me tornar uma líder mais humana. O termo tornou-se mais conhecido quando a pesquisadora americana Brené Brown, gravou o TED O poder da vulnerabilidade, em 2010, que está entre os mais assistidos do mundo. Segundo Brown, ser vulnerável é expor suas emoções, receios e fragilidades.
E por nos deixar expostos podemos concluir que, aparentemente, deveríamos restringir ao nosso círculo íntimo de familiares e amigos próximos. No entanto, acompanhei recentemente a repercussão de uma mulher a quem admiro muito profissionalmente, e isso me fez refletir a respeito da minha história com este tema. Me refiro à Jacinda Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, que renunciou ao cargo no final de janeiro. Primeiro, quero enaltecer a coragem dela ao reconhecer que não estava bem para continuar. Não é fácil saber a hora de parar e requer muita confiança para admitir que não há energia para trabalhar por mais uma reeleição: “Eu sou humana, políticos são humanos”, disse ela, que enfrentou anos desafiadores com a pandemia da Covid-19 no país.
Ao ver o depoimento de Jacinda, recordei do meu momento vulnerável. Quando voltei de licença maternidade em 2019 assumi um desafio com algumas viagens a trabalho e a tentativa de adaptação a duas novas realidades foi intensa. Então, percebi que estava exausta e tive que conversar com minha liderança, assumir a minha vulnerabilidade e admitir para ele que a rotina estava muito desafiadora para mim. Fui acolhida e contar com o apoio da PepsiCo na época foi fundamental.
Saber que eu poderia me ausentar por um tempo, se quisesse, me trouxe a tranquilidade que precisava. Até que, com a chegada da pandemia, as viagens foram suspensas e eu pude passar por este período trabalhando de casa, mais próxima do meu filho, o que me trouxe um novo gás e segurança. Fui surpreendida positivamente quando, poucos meses após a conversa honesta com minha liderança, fui promovida a Diretora de RH na PepsiCo. Foi uma satisfação pessoal muito grande perceber que a minha vulnerabilidade não tinha trazido nenhum dano à minha trajetória profissional. E vale ressaltar que foi um enorme incentivo saber que fui avaliada pela minha performance, uma conquista e tanto que já vi acontecer com outras mulheres dentro da PepsiCo e que me enchem de orgulho, pois é assim que eu acredito que as coisas devam ser.
Foi então que entendi que assumir-se vulnerável é, muitas vezes, a solução para o que precisamos em muitos momentos da nossa vida e o que nos torna pessoas únicas, e é o que nos faz ser quem somos verdadeiramente. Aceitar-se imperfeita nos permite desenvolver a empatia conosco e com a próxima. Não adianta projetar um ideal inalcançável, até porque o que é ideal para a gente muda a todo o tempo. Ter sido acolhida me empoderou para que eu fizesse o mesmo pela minha equipe. “Expressar a sua opinião sem medo”, inclusive, é um conceito valorizado dentro da PepsiCo.
Proporcionar um ambiente seguro é parte essencial do trabalho de líderes.
Hoje, se alguma colaboradora ou colaborador me procura em um momento vulnerável, eu busco ajudar a pessoa a resgatar a própria confiança, assim como fizeram comigo. Priorizo a minha agenda e o que estiver fazendo para me dedicar a ouvir o que aquela colaboradora ou colaborador precisa dizer, deixo à vontade para expressar seus receios e sentimentos. Afinal, como já mencionei aqui, a gestão empresarial também tem a responsabilidade de cuidar da parte emocional de suas colaboradoras e colaboradores, trazer amparo e apoio.
E tenho comigo um pensamento: “Você está onde seus pés estão, neste momento. Não queira fazer o que você não pode, não ultrapasse seus limites”, este é o conselho que precisei dizer a mim mesma muitas vezes e que gosto de compartilhar.