Juliana Marra

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Gerente sênior de relações institucionais e governamentais da Unilever Brasil.

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Uma reflexão sobre chegadas, partidas e uma longa estada. Eu escolho ficar!

9 dezembro 2022

Minha história com a Unilever é de longa data. Uma característica diferente do atual padrão de mercado, onde as pessoas costumam naturalmente buscar desafios fora das empresas que trabalham, seja pela busca de mais aprendizados e passos mais altos na carreira, seja pela melhoria salarial, que como sabemos, tem potencial de ocorrer nestas mudanças.

A construção de carreira que eu escolhi foi diferente disso. Eu optei por ficar na Unilever – e digo isso porque tive chances reais de sair – simplesmente porque todas as vezes em que pesei os pontos fortes e desafiadores das propostas eu via mais vantagem em ficar justamente pela forma como a Unilever se posiciona a respeito de temas como diversidade e inclusão, com especial destaque para as pautas de mulheres na liderança e representação LGBTQIA+. Não digo que a Unilever é a única empresa séria que trata do tema, claro que não é (ainda bem!). Mas quando olho para a minha história, nas comparações que eu fiz, sim, era melhor. E isso é um valor inegociável para mim.

Como disse no início, minha história é antiga por aqui. Iniciei em 2003, era uma garota de 23 anos, recém-formada, com uma página em branco de experiências prévias na área que entrava. Na época, pouco se falava de equidade de gênero, mulheres na liderança etc. e tal. A liderança da minha área era formada em sua maioria por mulheres. Mulheres com estilos muito diferentes, com experiências muito variadas. Minha gerente da época acreditou muito em mim, me indicou para um programa de desenvolvimento de novos líderes. Aquilo foi um marco para mim, e agradeço sempre pela oportunidade que me foi dada.

Quando relembro e reflito a respeito do início da minha carreira gerencial, lembro claramente que estive sempre cercada de mulheres que me inspiraram. Foi uma época difícil, de frios na barriga diários, com aumento de responsabilidade e aquela sensação de que não ia dar conta. Me lembro da minha ‘xará’, minha chefe na época, me dizendo algo mais ou menos assim: “Vai, segue o que você sabe fazer. Eu confio em você. O sucesso vai incomodar alguns. Quanto mais você brilhar, mais vai incomodar. Conviva com isso!”. O que ela fez, de me empoderar, de acreditar no meu desenvolvimento, é algo que levei comigo para sempre.

Anos depois optei por mudar de área, me movendo de assuntos regulatórios para a área corporativa. Foi uma transição calculada, pensada dentro do meu plano de desenvolvimento. Aqui os desafios foram de outra natureza, agora de ordem mais técnica e temática. Meu repertório precisou ser ampliado, temas completamente diferentes, stakeholders internos e externos novos. Novos frios na barriga. Aqui novamente tive liderança feminina próxima.

Foi nessa mesma época que meu desafio pessoal, de assumir para todos que eu me relacionava com uma mulher, que eu tinha uma namorada, se acentuou. Era um exercício diário de aceitação interna, porque sim, para mim foi um processo delicado e que necessitou de tempo.

E, naturalmente, fui incluindo o tema internamente na empresa e posso dizer, categoricamente, que a minha orientação sexual nunca foi problema para a Unilever. Ao contrário, foi aqui que encontrei respostas para dúvidas básicas como: posso incluir minha companheira no meu plano de saúde (ela já vivia comigo há mais de 2 anos)? Tenho direito a licença maternidade “normal”? Mesmo se ela ficar grávida? E se for adoção? Todas essas conversas aconteceram, foram reais e sem constrangimento interno. Podem parecer questões bobas, mas que fazem muita diferença em um mundo de conquista de direitos. Tenho muito orgulho quando vejo anúncios da Unilever como o recente, do apoio que a empresa vai dar para pessoas trans que farão a retificação dos seus documentos para o nome correto, aquele com o qual se identificam.

Escolhi ser uma profissional de assuntos corporativos, com atuação na área de relações institucionais e governamentais. Fui estudar mais a respeito. E meu maior desafio aqui nunca foi um tema em especial, algum assunto difícil de entender na área tributária ou ambiental. Meu desafio diário é o fato de o mundo externo ainda olhar diferente para uma executiva simplesmente porque ela vive com uma outra mulher. Sim, há olhares diferentes.

Algumas vezes senti essa distinção. É sutil, mas acontece. O ambiente de representação externa, de fóruns variados com governo, entidades setoriais, sindicatos e outras empresas nem sempre é inclusivo. É um mundo ainda repleto de pessoas que iniciaram a carreira e o trabalho em um outro contexto, de jantares e eventos corporativos para casais compostos por mulheres e homens. Um casal de mulheres fica completamente fora do “padrão”, entende?

Eu não posso dizer que sofri preconceito diretamente. Mas sei sim que fui desconsiderada de ocasiões em que não cabia esse formato.

Enfim, é um retrato da realidade. Eu escolho todos dos dias ser transparente, sincera e lutar pelo meu direito de me posicionar. E faço isso tranquilamente, porque trabalho em uma empresa que me apoia e me fortalece a ser quem eu quero ser todos os dias.

Sigo lutando por uma sociedade com menos rótulos nas pessoas, mais amor e respeito ao outro.

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