Foto de Melissa Vogel. Ela é branca, tem cabelos compridos e lisos, veste uma camisa preta de mangas compridas e sorri

Melissa Vogel

Mini Bio

CEO da Kantar IBOPE Media no Brasil e atual Presidente do IAB Brasil. Formada em Rádio e TV pela USP, pós-graduada em Administração pela FGV e em Comunicação de Mercado pela ESPM, onde também lecionou Inteligência de Mercado, participou do Advanced Program da IESE Business School Barcelona. Possui 25 anos de experiência em pesquisa e inteligência de mídia. Ocupou posições de liderança em diferentes áreas da Kantar, no Brasil quanto na América Latina. É conselheira consultiva do Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária – CONAR, e da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa – ABEP.

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Protagonismo invisível da força do trabalho feminino para os negócios e a sociedade

15 junho 2022

Um fato é incontestável: em nosso Brasil, em toda a sua história, homens sempre dominaram a força de trabalho e concentram maior poder de renda individual do que as mulheres.

Dentro de um amplo conceito de trabalho remunerado, que cobre os mais diferentes formatos de contratação, modelos de pagamento, setores de atuação e jornadas, atualmente, mulheres entre 18 e 65 anos correspondem a 47% da força de trabalho nacional. Representando mais de 53% da população brasileira nesta faixa economicamente ativa, e, no mínimo, poderíamos refletir a mesma proporção entre os trabalhadores.

Os números mencionados acima são do Target Group Index da Kantar IBOPE Media¹que ainda traz uma série de outras nuances sobre o tema. Este dado é, sim, uma evolução quando comparado aos de 20 anos atrás, quando nós, mulheres, correspondíamos a 43% deste universo de trabalhadores.

Temos, porém, pouco a comemorar, já que estamos bem distantes do reconhecimento do potencial que a força feminina tem para contribuir com o crescimento de negócios e indústrias e da equidade de gênero, que tanto temos lutado ao longo dos anos.

Além da simples equação entre quantas mulheres trabalham ou não, um segundo ponto a ser considerado, é que as horas de um dia são finitas. Ao necessitar repartir a sua jornada entre atividades em casa, com família e filhos, elas buscam maior flexibilidade e alternativas para compor a renda familiar. Tanto é assim, que a maior parte delas que tem trabalho remunerado se dizem profissionais autônomas: 48% trabalham por “conta” e sem empregados e 5% se declaram proprietárias de algum negócio.

Além da característica mencionada, a jornada dupla também afeta na carga de trabalho remunerado e as levam a dedicar menos horas nesta modalidade. 81% dos homens que trabalham cumprem mais de 30 horas por semana e apenas 66% das mulheres apresentam esta mesma carga horária. O simples fato de trabalhar menos horas já pode ser entendido como um limitador de remuneração total. Em um contexto laboral tão tradicional, horas de trabalho correspondem ao principal vetor salarial, enquanto elementos como resultados obtidos ou produtividade, por serem menos tangíveis, deixam de ser considerados como deveriam.

Em adição a esta questão relativa às horas dedicadas ao trabalho, outros conhecidos fatores remetem ao baixo reconhecimento da força feminina no ambiente laboral. Um deles é a menor valorização de setores em que mulheres atuam e a força quase invisível dedicada ao “trabalho do cuidado”, ligado a uma série de atividades que dão sustentação a toda a economia, tanto remunerado como não.

Neste universo entre as trabalhadoras remuneradas, 18% se dedicam ao setor de saúde e educação, e 23% a categoria de serviços pessoais, incluindo empregados domésticos, cozinheiros, jardineiros, motoristas, artesãos e ambulantes, entre outros. Entre os homens, os números são respectivamente de 8% e 13%. Também se destaca o setor de comércio, para o qual se dedicam 23% de mulheres e 18% entre os homens. Mulheres são minoria em áreas emergentes, como tecnologia, engenharia e inovação.

Finalmente, não podemos deixar de considerar nesta análise a escalada das mulheres às posições de liderança nas organizações em que trabalham. Com base no mesmo universo apresentado para os demais dados, em um amplo segmento de setores e atividades, incluindo empresas, escolas, hospitais, administração pública, entre outros, dentre os que se declaram diretores e médio gerentes, 61% são homens e 39% são mulheres.

Toda esta combinação de fatores, dentre outros aqui não citados, como a própria diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam as mesmas posições de trabalho, chancelam a grande a distância entre estes dois grupos no seu poder de renda individual. Homens de 18 anos e mais possuem uma renda mensal pessoal 51% maior do que a de mulheres. Enquanto a média de renda mensal deles é de R$ 2.503, a das mulheres é de $ 1.657.

A jornada para a equidade de gêneros ainda é muito longa e envolve profundas mudanças sociais e comportamentais! Mesmo assim, empresas e nós líderes temos um papel fundamental para promover esta pauta com aprendizados e ações que impactem as companhias, os negócios em que atuamos, mas que também possam influenciar sociedade e mover todos em uma única direção.

Celebrar cada conquista dos últimos anos é fundamental, mas também não podemos nunca esquecer que o status presente é pouco blindado a qualquer novo fato ou contexto não esperado. Basta refletir o retrocesso que passamos durante a pandemia quando, seguramente, mulheres no mercado de trabalho foram as mais afetadas neste contexto.

O assunto precisa estar sempre na pauta, e movimentos como o MM360 são e ainda serão fundamentais por muitos anos!

¹Fonte: Target Group Index 2021. Estudo Kantar IBOPE Media sobre hábitos e comportamentos do consumidor, realizado nas principais regiões metropolitanas do Brasil.

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