Foto de Melissa Vogel. Ela é branca, tem cabelos compridos e lisos, veste uma camisa preta de mangas compridas e sorri

Melissa Vogel

Mini Bio

CEO da Kantar IBOPE Media no Brasil e atual Presidente do IAB Brasil. Formada em Rádio e TV pela USP, pós-graduada em Administração pela FGV e em Comunicação de Mercado pela ESPM, onde também lecionou Inteligência de Mercado, participou do Advanced Program da IESE Business School Barcelona. Possui 25 anos de experiência em pesquisa e inteligência de mídia. Ocupou posições de liderança em diferentes áreas da Kantar, no Brasil quanto na América Latina. É conselheira consultiva do Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária – CONAR, e da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa – ABEP.

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Um olhar sobre a Economia do Cuidado

20 abril 2023

Uma verdade absoluta: para que uma pessoa chegue à fase adulta, ela precisou ser cuidada em diferentes fases e momentos da vida. Da mesma forma, qualquer sociedade sequer existiria se não tivesse como um dos seus pilares uma parte de sua economia voltada ao cuidado.

Entende-se aqui como Economia do Cuidado o grupo de atividades remuneradas ou não, fundamentais para garantir a vida das outras pessoas, como: cuidados com saúde, educação, alimentação, entre outros.

No ambiente domiciliar, poderíamos considerá-los como os “afazeres domésticos”, como lavar, passar, preparar as refeições, limpar a casa e ainda auxiliar na rotina de filhos, companheiros e outros dependentes. Atividades herdadas de maneira inconteste por gerações de mulheres ao longo da história, sem uma devida remuneração e que, correspondem a um papel primordial na sociedade.

Infelizmente pouco ou nenhum valor é dado para estas muitas horas dedicadas pelas mulheres para cuidar da saúde, do bem-estar e do zelo pelo lar e pela família. Um “trabalho invisível”, que exige uma carga horária extensa e um enorme cansaço mental. Assim, quando falamos sobre equidade de gênero, não podemos excluir a “Economia do Cuidado”.

Numa sociedade pautada pela velocidade, na qual o tempo é um ativo precioso, a Economia do Cuidado, com suas inúmeras atividades atreladas, é essencial para a criação e manutenção da vida como conhecemos. E tudo que é essencial requer tempo! E assim, quando contabilizadas, as tarefas do cuidar somam diversas horas por dia.

Na prática, essas horas de trabalho impactam de forma direta a trajetória pessoal e financeira de praticamente todas as mulheres, já que apesar da grande evolução que temos vivido, mulheres são as principais responsáveis pela “Economia do cuidado”, seja quando falamos do trabalho não remunerado, seja pelo remunerado.

Dados do Target Group Index revelam que 18% das mulheres maiores de 18 anos se declaram como donas de casa, ou seja, não exercem uma função formal remunerada, contra apenas 0,5% dos homens.

Olhando além da conta sobre quantas mulheres trabalham fora do ambiente doméstico, é importante lembrar que a jornada em casa pode ser interminável, mas o dia não. Isso significa que, em 24h, muitas delas estão ocupadas pelas múltiplas tarefas a serem cumpridas.

A necessidade de uma jornada dupla faz com que as mulheres muitas vezes não sejam capazes de trabalhar a mesma quantidade de horas fora de casa que os homens, já que 82% dos homens com mais de 18 anos que trabalham cumprem mais de 30 horas por semana e apenas 66% das mulheres apresentam esta mesma carga horária. Menos horas no trabalho são um bom indicativo para explicar salários mais baixos, já que elementos como índices de produtividade ou metas não possuem, em muitos casos, a mesma relevância.

Em adição a esta questão relativa às horas dedicadas ao trabalho, como mencionado, mulheres são as que mais se dedicam ao trabalho do cuidado em setores remunerados, que infelizmente são menos valorizados e apresentam baixas compensações financeiras. Dados do Target Group Index mostram que 36% das mulheres com mais de 18 anos estão empregadas em setores como saúde, educação e serviços pessoais, incluindo empregados domésticos, cozinheiros, jardineiros, motorista, artesãos e ambulantes, entre outros – esse número é de 14% para os homens. Elas também são destaque no comércio – 20% se dedicam nesse setor contra 16% dos homens. Já em setores que tradicionalmente oferecem soldos mais atrativos, como tecnologia, engenharia e inovação, elas são minoria.

Todos os aspectos mencionados acima, além da própria desigualdade salarial entre homens e mulheres nos mesmos cargos, afetam remuneração e revelam o quão longe estamos da equidade em termos de poder de renda individual. Homens com 18 anos ou mais possuem uma renda mensal pessoal 40% maior do que a de mulheres. Enquanto a média deles é de R$ 2.735, a delas é de R$ 1.950.

A Economia do Cuidado sustenta uma complexa teia social, pois o ato de cuidar é um elemento crucial para o bem-estar humano, bem como um componente essencial para uma economia vibrante e sustentável com uma força de trabalho produtiva. Neste contexto, as mulheres assumem uma parcela desproporcional, sendo que os desequilíbrios de gênero na distribuição do trabalho de cuidar constituem uma das principais causas do desempoderamento econômico e social das mulheres.

Leia a última coluna de Melissa Vogel: Um convite para 2023: redescobrir e reconhecer vozes e histórias femininas

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