Daniela Grelin
O compromisso com as mulheres passa pelas urnas
“Uma sociedade livre é uma conquista moral.” Lord Rabbi Jonathan Sacks
Este é um momento oportuno para trazer à nossa memória coletiva a noção de que uma sociedade livre e equitativa é, fundamentalmente, uma conquista. A conquista, defesa, manutenção e exercício da liberdade e equidade têm uma dimensão moral e, portanto, dependem de cada um de nós. Trata-se, simultaneamente, de um privilégio e uma responsabilidade indelegável.
Escolho falar na dimensão moral da busca da equidade em vez de falar em reivindicação de direitos, porque quando falamos em ‘direitos’ ocorre um estranho fenômeno. É como se ocorresse uma cisão, por meio da qual a dimensão de responsabilidade inerente ao exercício de direitos é delegada ao estado, este ente coletivo que é ‘o outro’, enquanto a dimensão de usufruto é reservada a mim, sujeito de direitos, nunca agente responsável por sua concretização. Pois bem, é justamente para evitar esta cisão e deixar bem claro que a conquista e a concretização plena de direitos depende de todos nós, que os convido a pensar na oportunidade que as urnas representam na construção de uma sociedade que valoriza e respeita as mulheres.
Ora, na prática, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à saúde, à educação, à segurança e outros direitos assegurados à mulher em nossa constituição precisa ser traduzido em políticas públicas que levem em consideração as preocupações mais prementes das brasileiras. No entanto, muito frequentemente, as dores e anseios vivenciados pelas mulheres em suas experiências pessoais estão ausentes dos debates públicos. Existem muitos candidatos e partidos dispostos a falar para e pelas mulheres e muito poucos genuinamente comprometidos em ouvi-las. Se não, vejamos. Qual foi a última vez em que você viu ou ouviu os seguintes temas pautarem os programas e propostas dos partidos e candidatos: (i) a atenção ao câncer de mama, causa número um de morte para a mulher brasileira em certas faixas etárias, e (ii) o enfrentamento às violências contra meninas e mulheres, flagelo que afeta uma entre cada três mulheres no Brasil e no mundo?
Este é um teste, entre muitos outros possíveis, para que se estabeleça uma parâmetro de distinção entre as plataformas, partidos e candidatos em que o compromisso com as mulheres é meramente performático e retórico e aqueles que realmente se comprometem com a recomposição da prioridade institucional, orçamentária e programática das demandas legítimas das mulheres. Outro parâmetro crítico é a competência (ou falta dela) na construção colaborativa de soluções com a sociedade civil organizada.
Para que as mulheres sejam ouvidas e para que seus interesses e suas soluções sejam de fato defendidos, é preciso que estejam proporcionalmente presentes nos espaços de formulação, priorização e implementação das políticas a elas dedicadas. Lembremos disso em nosso caminho para as urnas.